domingo, 22 de janeiro de 2017

UM ROMÂNTICO INCORRIGÍVEL

   Sinopse

Bloco de notas do repórter: 31 de dezembro de 2007

Alguém me ajude! Sou um prisioneiro numa cerimônia formal de casamento na véspera do Ano Novo! Para falar a verdade, não bem um prisioneiro, e sim um trabalhador forçado por meio de um contrato assinado com um jornal ganhador do Prêmio Pulitzer cujo nome não posso revelar. Já se passaram cinquenta e sete minutos e a cerimônia ainda nem começou. O quarteto de câmara está tocando “Endless Love” pela terceira vez. Alguém atire em mim agora, por favor? Estou rabiscando no meu bloco de notas, tentando esquecer que sou um solteiro de trinta e sete anos sozinho em plena véspera de Ano Novo. Não, sozinho não. Cercado de casais. A única mulher solteira aqui é a avó da noiva, que tem oitenta e cinco anos e é corcunda. E até ela tem companhia. Não gostaria de estar aqui. Não quero escrever sobre um casamento na Fundação de Artes Angel Orensanz, uma antiga sinagoga do século XIX no Lower East Side, para a qual vão as noivas fashionistas em busca do estilo exuberante do centro da cidade. Quero ficar com a Jill. Quero beijar sua nuca e envolver seu corpo com os braços enquanto nos embalamos no vaivém do samba no Blue Iguana. Uma dama de honra finalmente caminha até o altar da antiga sinagoga. Lentamente. Nunca antes ouvi tocarem “Canon”, de Pachelbel, tão devagar . Uma florista flutua numa nuvem de tafetá branco. Com grandes olhos e longos cachos castanhos. Vejo a noiva parada sob o brilho âmbar da luz de velas, e algo em mim se entrega. Não consigo deixar de pensar em todas as noivas que vieram antes dela, conectadas por um vestido branco, uma aliança de ouro e um primeiro beijo. É um momento de sublime esperança.
E faz com que eu me sinta insuportavelmente sozinho.

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